quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DESENVOLVENDO UMA PRANCHA EM CONJUNTO COM O SHAPER



Situação 1 – Eu queria uma prancha rápida e solta. Capricha!!!

Situação 2 – Eu queria uma prancha diferente.  O que você acha de uma double wing swallow, com um concave no pé da frente, passando para um double concave no pé de trás e seis canaletas na saída da rabeta???

Situação 3 – Eu queria uma prancha com as medidas que eu vi da prancha do “fulano-de-tal”, na revista “Influir”.




Eu duvido que exista um shaper no mundo que nunca se deparou (ou se depara) com uma, ou mais, dessas situações apresentadas acima.  O surf evoluiu muito nas últimas duas décadas no Brasil, mas certas coisas parecem não mudar nunca.  È por isso que eu resolvi escrever este artigo.  Quem sabe não lanço algumas sementes, para mudar um pouco essa realidade?  Mas é preciso derrubar alguns paradigmas, no intuito de melhorar o relacionamento surfista/shaper e tirar mais proveito dessa relação.




A primeira é a crença de que o shaper é um indivíduo infalível, uma espécie de “guru”, que domina todos os conhecimentos relacionados à prancha de surf.  O shaper é sim, um indivíduo com a habilidade de transformar um bloco de poliuretano numa prancha, fazendo uso do conhecimento acumulado através da experiência e do estudo das pranchas ao longo do tempo e das ciências correlatas ao seu ofício (física, matemática, hidro e aerodinâmica, química, resistência dos materiais, antropometria, ergonometria, etc).  Cada prancha é uma peça única, fruto do estágio de desenvolvimento do shaper num dado contexto histórico e cultural.  Sendo assim, o shaper reflete nas pranchas: a sua linha de pensamento (conceitos), as tendências que cercam o seu entorno cultural (feedback da equipe de competição, satisfação do cliente, as pranchas dos pros do WCT, novos materiais, a situação política e econômica do país, etc).




O segundo é também uma crença muito comum no meio surfístico: “a prancha que é boa para um pro, é boa pra qualquer surfista”.  Não necessariamente!  Cada surfista tem características próprias.  Mesmo surfistas que têm estilos muito parecidos podem apresentar diferenças grandes no design de suas pranchas.  Eu tenho um amigo que é fã incondicional do Occy e tenta surfar como ele, mas o seu estilo é mais parecido com o do Tom Curren. Como equacionar um problema deste?  Primeiro, temos um problema psicológico, onde um indivíduo idealiza uma imagem de si mesmo.  Depois temos a imagem que os outros têm desse indivíduo.  Por último, temos o shaper, que, independente dos dois fatores anteriores, tem que se ater as reais necessidades do indivíduo em questão para, só então, produzir a prancha ideal.




É neste ponto que começa a verdadeira relação entre surfista e shaper.  Desenvolver o design ideal para um determinado indivíduo é um trabalho que leva algum tempo.  Sobre o shaper, já mencionei anteriormente que é o indivíduo responsável por transformar idéias em realidade, dentro de um determinado contexto que o cerca.  Mas qual é a responsabilidade do surfista nessa hora?  Como ele pode contribuir para melhorar os resultados de tal relação?




Acho que a palavra-chave é FIDELIDADE.  Quando se encomenda uma prancha pela primeira vez, a maioria dos shapers, não conhecendo o surfe do cliente em profundidade, produz uma prancha mediana.  Essa prancha será o referencial que o shaper irá usar na hora de fazer a próxima prancha.  Mas o cliente é a parte mais importante nessa etapa, pois o “feedback” fornecido por ele será primordial para os ajustes a serem feitos na nova prancha.  Pena que isso, em grande parte, seja uma grande utopia...




A maioria dos surfistas sofre de um mal chamado “imediatismo”.  Esse mal impede, na maioria das vezes, que um trabalho de desenvolvimento de uma prancha em conjunto seja concretizado.  Não fossem os atletas das equipes de competição e uns poucos realmente interessados no desenvolvimento do seu surf de uma forma mais racional, o shaper não teria como avaliar os progressos do seu trabalho de uma forma mais direta e objetiva.





Portanto, na próxima vez em que você for encomendar uma prancha nova, converse com o seu shaper, mas não chegue com idéias pré-concebidas.  Tente expor a suas dificuldades, em vez de suas virtudes.  Tente conhecer mais sobre a prancha e seu funcionamento, começando por guardar as dimensões básicas delas.  Com o tempo, talvez, você esteja apto a chegar junto ao seu shaper e manter uma conversa mais produtiva na hora de decidir qual vai ser a sua próxima “nave”.

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