quarta-feira, 14 de agosto de 2013

QUILHAS X BORDAS – Parte 2 - O Renascimento *





Já fizemos uma volta ao passado, para entender um pouco da evolução das quilhas.  Vimos que no princípio não havia quilhas nas pranchas e que hoje elas são imprescindíveis ao surf “pós-moderno”.  Mas qual é a função das bordas e que relação existe entre elas e as quilhas?Já foi comentado num artigo anterior, que Shaun Tomson afirmou categoricamente, que a cavada era a manobra mais importante do surf (isso lá pelos anos 70).

Se pudermos observar um vídeo de surf quadro a quadro, veremos que durante uma cavada, o surfista está apoiado na borda que está na água.  Olhando mais atentamente, veremos que uma das quilhas está fora d’água e a central está muito próxima à superfície, o que quase anula a força hidrodinâmica dela.  Hipoteticamente, se a água fosse mais densa, poderíamos surfar sem quilhas.  O envolvimento das bordas com essa massa seria o suficiente para manter o equilíbrio das forças dinâmicas atuantes.  Você duvida?  Observe os snowboards e os sandboards: eles não têm quilhas.

Agora eu cheguei onde eu queria: “Mudar o foco de atenção do surfista”.  Ao longo da minha carreira de surfista e shaper, sempre observei o modo como alguns surfistas se destacam de outros.  Inspirado na afirmação de Shaun Tomson e baseando nas minhas observações, cheguei a conclusão de que o que diferencia os bons dos “nem tão bons” surfistas é o foco de atenção deles sobre a prancha.  Uns baseiam o surf nas quilhas, outros nas bordas.


Os que baseiam o surf nas quilhas exageram nas manobras horizontais e perdem o ritmo durante o percurso da onda.  Isso se deve ao fato de que eles forçam demais a área da rabeta da prancha, pressionando e/ou empurrando ela contra a superfície da onda no intuito de mudar a direção da prancha.  Podemos observar, também, que esse tipo de surfista agita muito os braços na busca pela manutenção do equilíbrio.  Tudo isso contribui para uma perda de qualidade estética e funcional na performance destes indivíduos.


Já os surfistas que focam o seu surf nas bordas são muito mais harmônicos e transmitem aquela sensação de domínio sobre a matéria.  Tudo porque eles traçam linhas mais fluidas e despejam toda a energia adquirida no momento exato de explodir numa manobra.  Para este tipo, mudar a direção da prancha é uma questão de “troca de bordas”.  A postura deles demonstra um maior equilíbrio, fato que permite uma maior tranqüilidade na hora de raciocinar os movimentos ao longo da onda.

Dito isso, o que você pode fazer?  Cruzar os braços e se conformar com o seu estilo (ou falta dele), ou adotar uma atitude mais positiva, buscando a evolução do seu surf?  Você decide!  Se você tomou a decisão certa, ai vão alguns conselhos:

Ø  Seja mais observador: guarde um tempinho para ficar sentado na praia observando a performance do outros surfistas, compare os estilos;
Ø  Assista aos vídeos de surf e abuse do slow-motion e do quadro a quadro;
Ø  Seja observador consigo mesmo, vale foto, filmadora e a opinião dos amigos;
Ø  Seja mais contido por um tempo.  Execute menos manobras por onda, mas tente faze-las com perfeição;
Ø  Treine manobras separadamente.  Num dia cutbacks, no outro batidas e etc;


Ø  Tente ser mais consciente de você mesmo.  Por exemplo, dificuldades físicas (falta de condicionamento, alimentação deficiente);
Ø  Por último, avalie o seu equipamento (não só a prancha).  Por exemplo, parafina inadequada, cordinha muito grossa, deck antiderrapante mal posicionado, etc.



Eu acredito que todo o surfista é capaz de vencer as suas limitações e avançar para um patamar mais radical do seu surf.  Só depende dele, da sua força de vontade e da capacidade detectar deficiências e superá-las, com ou sem a ajuda de outros.  Espero que estes artigos sirvam, pelo menos, como estímulo.  Boas ondas!!!

* Este texto foi publicado num extinto site, chamado Surfside, por volta de 2000.