domingo, 7 de julho de 2013

GO SHORTER, GO WIDER, GO AHEAD!

O surf é um esporte incrível e surpreendente para quem estuda a sua evolução. Da religião ao esporte, do lazer às competições, da fuga ao profissionalismo, dos anônimos às superestrelas, da madeira aos materiais mais high tech, das olo boards às shortboards... São muitas eras que tiveram um desenvolvimento constante, mas nem sempre sincronizado.

O design das pranchas é um dos universos mais instigantes. Resumindo, como no parágrafo anterior, poderíamos dizer que as pranchas evoluíram de uma relativa padronização, para uma pulverização de designs. Mas quais os fatores que levaram a este patamar em que nos encontramos?

 FISH RETRO
MINI SIMMONS

Não houve um fator isolado, isto é certo. Ao longo dessa evolução, vários elementos contribuíram para estes avanços e mudanças de paradigmas. Um deles foi a descentralização do esporte, com a disseminação proporcionada pelo grande embaixador, Duke Kahanamoku, que propagou a beleza do esporte pelos quatro cantos do planeta. Isso contribuiu para que outras influências culturais começassem um processo de releitura do surf tradicional, baseado nas antigas pranchas havaianas.

Um segundo fato, foi o surgimento de novos materiais, que possibilitaram maior agilidade na construção  e experimentação de novas concepções de pranchas. A fibra de vidro e as espumas expandidas foram grandes impulsionadores desta fase.

Como terceiro aliado neste processo, citaria o desenvolvimento das competições. Isso criou um ambiente favorável à busca de pranchas mais ágeis e responsivas. O atleta deixava, cada vez mais, de ser passageiro, para se tornar o piloto destes protótipos. O shaper passa a ser um elemento chave deste universo. A era do shaper-guru dá lugar para o shaper-designer.

CASSIO KAYAN E SUA "LARGUINHA" NO PÓDIO

Como uma coisa leva a outra, os surfistas começam ater um comprometimento maior com a carreira profissional e com o desenvolvimento de novas manobras, elevando o surf a patamares inimagináveis. As décadas vão se passando e são marcadas por gerações de surfistas que deixaram seus nomes marcados na trilha do tempo, devido aos seus feitos, sejam eles competitívos, inovadores, ou simplesmente performáticos.

CASSIO KAYAN E SUA "LARGUINHA" EM AÇÃO

Neste aparente tornado de acontecimentos, o shaper foi a peça que mais teve que se adaptar, passando por décadas de transições, testando materiais, técnicas construtivas, vendo limites sendo derrubados e tendo que se reinventar a cada mudança. A mais recente destas transformações veio na forma de uma releitura de velhas ideias. Na década de 90, quando o mundo do surf ainda se adaptava às performances avassaladoras da turma do new-school, com suas pranchas "batata-chips", um movimento dos descontentes com estes designs ultrafinos e curvados iniciou uma romaria em busca do resgate de velhos designs esquecidos: a moda retrô. Fishes, Mini Simmons, Rocket Fishes e outros clássicos das décadas de 60/70 voltaram a surgir, para atender essa demanda. Diversos filmes começaram a mostrar os ícones da nova geração brincando com estas pranchas e mostrando novas possibilidades, baseadas numa linha de surf mais polida.

MODELO DUMPSTER DA CHANNEL ISLANDS

Não demorou muito para que shapers e surfistas percebessem que aquelas pranchas estavam longe do ideal para o atual patamar técnico do surf. A galera mais veterana até curtia aquele conforto na remada, devido a excessiva flutuação, mas elas limitavam muito a expressão em termos de manobras mais agressivas. Além disso, muitas delas não funcionavam bem em ondas mito rápidas, fotor que já está incorporado na linha de surf há algumas décadas. O resultado disso foi um blending de virtudes, ou um mix do melhor dos dois mundos: criar uma prancha pequena, com flutuação, mas que desenvolvesse um surf mais progressivo. 

MODELO KERROSOVER DA RUSTY

Esta evolução pode ser observada através de filmes de surf, como um da série The Search, da Rip Curl, que mostrava Tom Curren na Indonésia, com uma 5'7'' em grandes e perfeitas direitas. Redux 5'5'' x 19 1/4'' da Lost também foi outro filme que marcou essa nova tendência.

QUIVER DO SLATER

Os surfistas mais progressivos do planeta, entre eles Kelly Slater, Dane Reynolds, Chris Ward e Josh Kerr, entraram nessa onda e passaram, juntamente com seus shapers, a desenvolver o aprimoramento destes designs. A vitória de Kelly Slater no Pipemaster 2008 usando uma 5'11'' e sua consequente adesão aos modelos mais curtos de prancha, chegando à 201, com uma vitória em Tavarua/Fiji com uma 5'9'' x 18 1/4'' x 2 1/4'', mostra o ritmo acelerado desse "encolhimento". Dane Reynolds é outro que aderiu à moda, mas com modelos diferenciados, mais largos e com mais volume do que a dos concorrentes (5'8'' x 19 1/2'' x 2 1/2'' e a mais recente com 19 1/4'' x 2 7/16''). 
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MODELO #4 DE DANE REYNOLS / CHANNEL ISLANDS

Resumindo, a proposta deste texto foi mostrar o quão dinâmico o surf tem sido ao longo da história, no que tange ao design das pranchas. A última década, especialmente, tem mostrado que a tendência de diminuição nas dimensões das pranchas, preservando sua volumetria adequada ao peso e habilidade do surfista, vem se demonstrando que essa é a direção correta para aqueles que buscam pranchas mais progressivas. As manobras aéreas e de rotação estão cada vez mais altas e radicais, e o design das pranchas é um dos fatores que têm permitido este avanço técnico. Mas esta tendência não se limita aos atletas mais ágeis. É possível encontrar modelos intermediários com características próprias para os surfistas mais pesados e/ou com menos habilidade técnica, mas que buscam por pranchas mais manobráveis, sem comprometer a flutuação e a remada. Para os saudosistas, os modelos retrô ainda são um caso de amor e irão povoar os lineups do mundo por muitos e muitos anos.

                                                  LOST REDUX 5'5'' X 19 1/4' X 2 7/16''


KELLY SLATER PIPEMASTER 2008 COM UMA 5'11''


Um comentário:

  1. Kelly é um alienígena...só pode....surfar pipe de 5.11 e ainda por cima ganhar...um grande feito...quero ver quando esse cara sair do circuito...o velhinho tem muito a ensinar ainda...quanto as pranchas gostei da KERROSOVER...aquela medida de volume é interessante...

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