Já fizemos uma volta ao passado, para entender um pouco da
evolução das quilhas. Vimos que no
princípio não havia quilhas nas pranchas e que hoje elas são imprescindíveis ao
surf “pós-moderno”. Mas qual é a função
das bordas e que relação existe entre elas e as quilhas?Já foi comentado num
artigo anterior, que Shaun Tomson afirmou categoricamente, que a cavada era a
manobra mais importante do surf (isso lá pelos anos 70).
Se pudermos observar um vídeo de surf quadro a quadro,
veremos que durante uma cavada, o surfista está apoiado na borda que está na
água. Olhando mais atentamente, veremos
que uma das quilhas está fora d’água e a central está muito próxima à
superfície, o que quase anula a força hidrodinâmica dela. Hipoteticamente, se a água fosse mais densa,
poderíamos surfar sem quilhas. O
envolvimento das bordas com essa massa seria o suficiente para manter o
equilíbrio das forças dinâmicas atuantes.
Você duvida? Observe os snowboards
e os sandboards: eles não têm quilhas.
Agora eu cheguei onde eu queria: “Mudar o foco de atenção
do surfista”. Ao longo da minha carreira
de surfista e shaper, sempre observei o modo como alguns surfistas se destacam
de outros. Inspirado na afirmação de
Shaun Tomson e baseando nas minhas observações, cheguei a conclusão de que o
que diferencia os bons dos “nem tão bons” surfistas é o foco de atenção deles
sobre a prancha. Uns baseiam o surf nas
quilhas, outros nas bordas.
Os que baseiam o surf nas quilhas exageram nas manobras
horizontais e perdem o ritmo durante o percurso da onda. Isso se deve ao fato de que eles forçam
demais a área da rabeta da prancha, pressionando e/ou empurrando ela contra a
superfície da onda no intuito de mudar a direção da prancha. Podemos observar, também, que esse tipo de
surfista agita muito os braços na busca pela manutenção do equilíbrio. Tudo isso contribui para uma perda de
qualidade estética e funcional na performance destes indivíduos.
Já os surfistas que focam o seu surf nas bordas são muito
mais harmônicos e transmitem aquela sensação de domínio sobre a matéria. Tudo porque eles traçam linhas mais fluidas e
despejam toda a energia adquirida no momento exato de explodir numa
manobra. Para este tipo, mudar a direção
da prancha é uma questão de “troca de bordas”.
A postura deles demonstra um maior equilíbrio, fato que permite uma
maior tranqüilidade na hora de raciocinar os movimentos ao longo da onda.
Dito isso, o que você pode fazer? Cruzar os braços e se conformar com o seu
estilo (ou falta dele), ou adotar uma atitude mais positiva, buscando a
evolução do seu surf? Você decide! Se você tomou a decisão certa, ai vão alguns
conselhos:
Ø
Seja mais observador: guarde um tempinho para
ficar sentado na praia observando a performance do outros surfistas, compare os
estilos;
Ø
Assista aos vídeos de surf e abuse do slow-motion e do quadro a quadro;
Ø
Seja observador consigo mesmo, vale foto,
filmadora e a opinião dos amigos;
Ø
Seja mais contido por um tempo. Execute menos manobras por onda, mas tente
faze-las com perfeição;
Ø
Treine manobras separadamente. Num dia cutbacks, no outro batidas e etc;
Ø
Tente ser mais consciente de você mesmo. Por exemplo, dificuldades físicas (falta de
condicionamento, alimentação deficiente);
Ø
Por último, avalie o seu equipamento (não só a
prancha). Por exemplo, parafina
inadequada, cordinha muito grossa, deck antiderrapante mal posicionado, etc.
Eu acredito que todo o surfista é capaz de vencer as suas
limitações e avançar para um patamar mais radical do seu surf. Só depende dele, da sua força de vontade e da
capacidade detectar deficiências e superá-las, com ou sem a ajuda de
outros. Espero que estes artigos sirvam,
pelo menos, como estímulo. Boas ondas!!!
* Este texto foi publicado num extinto site, chamado Surfside, por volta de 2000.