Toda vez que alguém encomenda uma prancha nova o shaper ouve a
mesma súplica: “queria que a minha prancha fosse rápida e solta”. Às vezes eu até brinco com o cliente, dizendo
que ele quer uma prancha sem quilhas...
Mas na verdade, essa situação é mais complexa do que parece. Para melhor entender o meu ponto de vista,
vou fazer uma breve retrospectiva histórica do desenvolvimento do surf nas
últimas três décadas.
Nos anos 70, o surf era desenvolvido sobre pranchas muito maiores
e grossas que as atuais. Na sua maioria
single fins (uma quilha). Havia muita
flutuação naqueles modelos, mas as manobras eram muito limitadas e lentas
(comparando com os dias atuais). Se
pudessem ver revistas da época, notariam que o porte físico dos surfistas era
bem diferente dos atuais. Tudo era mais
rústico e embrutecido. No final desta
década surgem as twin fins (bi quilhas), esboçando a primeira reação na direção
de um surf mais progressivo. Os grandes
expoentes dessa geração foram Gerry Lopez, Rory Russel, Shawn Thomson, Mark
Richards, Cheyne Horan e Reno Abelira entre outros.
Chegam os anos 80, e com eles a grande revolução das tri-fins
(três quilhas), criadas por Simon Anderson.
Testadas nos expressos da Indonésia e apresentadas à comunidade do surf
pelo próprio criador durante o tour daquele ano, estas verdadeiras máquinas de
moer ondas causaram o maior impacto do ponto de vista do aproveitamento da onda
em comparação com as suas antecessoras.
Ao mesmo tempo em que proporcionava maior velocidade, como as twin fins,
aliava maior segurança nas manobras mais críticas. O equipamento ficou mais refinado, assim como
os surfistas que se criaram nestes modelos.
Nomes como Hans Hedeman, Willy Morris, Joey Buran, Bud Llamas, Terry
Richardson, Tom Carroll e Tom Curren marcaram esse período.
Os anos 90 chegaram meio mornos.
Havia uma relutância no começo da década em relação aos avanços nos
designs das pranchas. Era o impacto do
pós-moderno afetando a comunidade surfística.
Muitos afirmavam que o surf havia chegado ao seu máximo e que tudo que
se fazia era nada mais do que usar velhas idéias com uma nova roupagem. Mas como a Fênix, o surf ressurge das cinzas
para provocar no mundo do surf a maior revolução técnica de todos os
tempos.
Mais uma vez, a necessidade por
velocidade foi a mola mestra desse salto qualitativo. Só que desta vez ela foi impulsionada por uma
geração de surfistas estilistas e radicais.
As necessidades criadas pelas manobras de última geração deram um novo
gás para os shapers e designers de plantão.
Toda a indústria do surf foi afetada.
Novos materiais como fibras mais leves e resistentes, blocos mais
refinados e até roupas de neoprene mais elásticas surgiram. Esta geração conta com surfistas do naipe de
Kelly Slater, Mark Occhilupo, Kalani Rob, the Iron’s Brothers, Hobgood
Brothers, Lopez Brothers e tantos outros brothers.
Chegamos aos anos 2000 e já estamos em 2013. As performances dos atletas ficam cada vez mais
espetaculares. Nunca se produziu tantos
vídeos de surf, que são devorados por uma legião de entusiastas, ávidos por
assimilar novos truques de seus ídolos.
Garotos de oito anos podem ser vistos tentando uma variedade de ollies,
aéreos e reverses, entre outras manobras.
A velocidade é extrema, como uma metáfora da era digital em que
vivemos. Mas o que é que tudo isso tem a
ver com você?
Por que você pede uma prancha que te dê mais velocidade ao seu
shaper?
Era uma vez um surfista chamado Donovan Frankenreiter. Ele era famoso por fazer um surf
descomprometido e alternativo. Um dia
ele resolveu surfar com velhos modelos no meio daquela galerinha que só queria
usar o que havia de última moda.
Resultado? Todos ficaram de boca aberta com a performance do rapaz que
fazia manobras de última geração num “toco” de 30 anos atrás. Moral da história? Será que é a prancha que
dá velocidade ao surfista, ou é o surfista que dá velocidade à prancha?
No próximo artigo, eu estarei abordando a questão da velocidade x
surf em detalhes mais práticos. Até lá...